Sérgio Moro - Concorda com Bolsonaro sobre maioridade penal e posse de armas
O juiz federal Sergio Moro demonstrou
convergência com posições do presidente eleito, Jair Bolsonaro, sobre
flexibilização de posse de armas e redução da maioridade penal. Esses
temas foram questionados por jornalistas durante coletiva de imprensa
concendida pelo magistrado na tarde deste hoje (6), em Curitiba. Foi
a primeira entrevista de Moro desde que aceitou o convite de Bolsonaro
para ser ministro da Justiça a partir do ano que vem.
Segundo
Sergio Moro, Bolsonaro foi eleito com base em uma plataforma que prega a
flexibilização da posse de armas em ambiente residencial e seria incoerente se
ele não levasse essa pauta adiante. "A questão a ser discutida é a
forma como isso vai ser realizado. Externei a minha preocupação a ele
[Bolsonaro] de que uma flexibilização excessiva pode ser muitas vezes utilizada
como uma fonte de armamento para organizações criminosas, então tem que se
pensar quantas armas um indivíduo vai poder ter na sua casa. Se for
um número exagerado, isso pode ser um desvio de finalidade. Quanto à questão do
porte [poder transportar armas nas ruas e veículos], o próprio presidente
eleito disse que isso tem que ser mais restrito que a posse",
argumentou.
Perguntado
sobre a redução da maioridade penal, tema historicamente defendido pelo
presidente eleito, o futuro ministro da Justiça ponderou sobre a extensão da
medida, mas demonstrou concordância a proposta que tramita no Congresso
Nacional.
"Existe
uma proposta de emenda constitucional [PEC 171/93] que foi apresentada anos
atrás que prevê redução da maioridade para 16 anos em casos de crimes graves,
com resultado morte ou lesão corporal grave ou casos de estupro. A pessoa
menor de 18 anos deve ser protegida, que às vezes ele não tem uma compreensão
completa das consequências dos seus atos, mas um adolescente acima de 16
já tem condições de percepção de que, por exemplo, não pode matar. Então um
tratamento diferenciado para este tipo de crime me parece razoável",
justificou.
Criminalização de movimentos
Num
dos poucos momentos em que pontuou divergência com o futuro chefe, Sergio Moro
criticou a possibilidade de enquadrar movimentos sociais como
organizações terroristas. A medida, que já recebeu apoio explícito de
Bolsonaro em discursos de campanha e mesmo após a sua vitória nas urnas,
pretende configurar como terrorismo atos como dano de bens públicos ou
privados. O projeto de lei 272/16, do senador Lasier Martins (PDT-RS), prevê
penas de até 30 anos de prisão para quem comete esse tipo de infração, que
poderia ser aplicada em casos de manifestações e ações de movimentos
sociais.
Segundo
Moro, nenhum movimento social é "inimputável" e tem que responder por
eventuais danos a terceiros, mas sem a necessidade de tipificar um novo crime.
"Me parece, no entanto, que qualificá-los [os movimentos sociais]
como organização terrorista não é consistente. (...) Existe uma lei, uma ordem
que tem quer ser observada mesmo por esses movimentos, mas em nenhum
momento se tem a intenção de criminalizar, vamos dizer assim, manifestações
sociais ou coisas da espécie".
Garantia para policiais
Outro
tema polêmico abordado por Sergio Moro foi a possibilidade de agentes policiais
poderem ter algum tipo de garantia jurídica no caso de mortes
decorrentes do enfrentamento com criminosos armados, medida chamada de
"excludente de ilicitude", que é defendida por Jair Bolsonaro. Para o
futuro ministro da Justiça, as diligências policiais devem evitar o confronto,
mas, casos eles ocorram, a regulamentação sobre o assunto pode ser modificada,
na visão do magistrado.
"A
nossa legislação até já contempla, existe a defesa, o estrito cumprimento do
dever legal. Tem que ser avaliado no entanto se é necessário uma regulação
melhor. Por exemplo, é necessário que o policial espere que um traficante
armando atire contra ele de fuzil, para que ele possa reagir? Me parece que
exigir isso de um agente policial é demais, porque o risco dele morrer numa
diligência dessa é muito grande. Mas isso não quer dizer que o confronto
policial é uma estratégia a ser perseguida no enfrentamento ao crime
organizado, essa é uma situação limite", definiu.
Ditadura
Já
quando foi perguntado sobre a ditadura militar, Sergio Moro evitou entrar em
polêmica com as opiniões de Bolsonaro sobre o assunto e disse que seus olhos estão voltados
para 2019. "Essas discussões sobre eventos que aconteceram no passado têm
gerado certa polarização, eu não vejo essa discussão como salutar nesse
momento", afirmou.
Fonte:
Agência Brasil
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