Materno Infantil: Morte de grávida causa indignação na cidade de Marabá, no Pará
A morte da
grávida, Simone de
Souza Nascimento, 29 anos, ocorrida no Hospital Materno Infantil de Marabá
(HMI), por volta de 7 horas da manhã, de ontem (4), após complicações
durante o trabalho de parto, provocou um intenso debate nas redes sociais e nas
“rodas de conversa”. Após dialogar com o esposo da vítima, Edivaldo Sanches Furtado, ele disse
que a parturiente foi internada no HMI, às 19 horas, do dia (3), para
realização de cirurgia cesariana, pois os médicos plantonistas já sabiam que
ela não poderia ter o “parto normal”. “Quando
cheguei ao HMI no início da manhã de ontem (4), a equipe me informou que a
criança nascera de parto normal, por volta de 4h 30, mas minha esposa estava
morta devido a uma hemorragia”, disse ele muito triste.
O que diz o Conselho Federal de Medicina
O Conselho Federal de
Medicina (CFM), na Resolução 2144/2016, traz a seguinte redação: “É ético o médico atender à vontade da
gestante de realizar parto cesariano, garantida a autonomia do profissional, da
paciente e a segurança do binômio materno fetal. A norma define critérios para
cesariana a pedido da paciente no Brasil e estabelece que, nas situações de
risco habitual e para garantir a segurança do feto, somente poderá ser
realizada a partir da 39ª semana de gestação”. De acordo com Edivaldo
Furtado, existem fortes indícios de negligência médica, pois a equipe de
plantão sabia da preferência da paciente pela operação cesariana devido ao
histórico de parto de Simone Nascimento.
Conselho Municipal de Saúde
Em contato com a
Presidente do Conselho
Municipal de Saúde de Marabá (CMS), Monalisa Miranda, ela informou
que ficou ciente do caso através das redes sociais. “Ainda não recebemos a denúncia formal da família da parturiente,
estamos aguardando esse contato para adotar as providências que cabem a este
órgão fiscalizador”, disse a Presidente. Monalisa afirmou ainda que, na
manhã de hoje (5), uma “Equipe Técnica” irá ao HMI para colher as primeiras
informações a respeito da morte de Simone Nascimento. Ela disse que o CMS não
possui “caráter punitivo”, isso cabe ao Ministério Público. “Se houve indícios de negligência médica,
iremos enviar as informações do delito ao MP”, argumentou.
Conselho Municipal da Mulher
Júlia Rosa, Presidente do Conselho Municipal da Mulher,
afirmou que uma equipe de conselheiras, na segunda-feira (7), irá visitar o
Hospital Materno Infantil para tomar ciência dos fatos que culminaram na morte
de Simone Nascimento. “Uma mulher grávida
entrar em um hospital para ganhar seu bebê e sair morta dentro de um caixão, alguma
coisa de errado aconteceu durante o atendimento. Vamos apurar se houve erro
médico ou uma fatalidade e encaminhar as informações ao Ministério Público,
disse Júlia Rosa.
Câmara Municipal de Marabá
O vereador, Pedro Correa,
Presidente da Câmara
Municipal de Marabá (CMM), no início da noite de ontem (4), afirmou
que tomou conhecimento do caso e determinou que a Comissão de Saúde da Câmara,vá in loco, ao HMI, para averiguar possível
negligência médica e adotar medidas para que mortes como essas não voltem a
acontecer em um dos hospitais de maior referência em Marabá e toda a região do
Carajás. "Pedrinho" lamentou bastante o falecimento da parturiente.
Secretaria Municipal de Saúde
A atual Secretária
Municipal de Saúde, Dármina Duarte Santos, argumentou que a
Prefeitura Municipal de Marabá, sob a orientação do Prefeito Sebastião Miranda,
vem adotando providências para melhorar o atendimento às parturientes e
modernizar a estrutura do Hospital Materno Infantil, porém não são medidas
fáceis de serem implementadas. De acordo com Dármina Duarte, a morte de Simone
Nascimento será investigada, com rigor, para apurar se houve erro ou negligência
da equipe de plantão. A Secretária de Saúde disse ainda que, em nenhum momento, o HMI ou a SMS informaram à imprensa que Simone Nascimento teria passado por uma cirurgia cesariana. "O parto dela foi normal", asseverou Dármina.
O que dizem as mães
Ouvidas, ontem (4), cinco mães que ganharam filhos, nos últimos dias, no Hospital
Materno Infantil de Marabá, foram categóricas em afirmar que o “primeiro
atendimento” e o “parto em si” são considerados de excelência. Segundo
elas, o problema no HMI ocorre durante o chamado “período de indução ao parto
normal”, pois as mulheres sofrem muitas dores e não são ouvidas quando
dizem que não poderão ter parto normal. Faltaria um acompanhamento mais próximo
e humano da gestante pelo médico plantonista. Esse período de indução fica sob
a responsabilidade da equipe de enfermagem. “São
muitas grávidas para uma equipe pequena. Faltam mais profissionais de saúde no
HMI, a gente se sente desamparada", disseram elas.
Responsabilidade do médico de plantão
A Resolução, Nº 2144/2016,
do Conselho Federal de Medicina (CFM), estabelece duras regras para realização
de cirurgia cesariana. A Organização Mundial da
Saúde (OMS) recomenda que o índice de partos cesáreas fique entre 10% e 15% dos
nascimentos. De acordo com o Ministério da Saúde, no Brasil esse índice é de
40%, mas na rede particular chega a 80%, muito acima do recomendado pela OMS. O CFM estabelece que se o médico deixar de cumprir as
normas contidas na Resolução, Nº 2144/2016, poderá sofrer
sanções que vão desde uma “advertência” até a “suspensão do registro
profissional”. Talvez uma parte dos problemas reclamados pelas parturientes no
Materno Infantil esteja no medo do médico em descumprir essa Resolução.
Hospital Materno Infantil
O HMI,
como é conhecido, através de dados oficiais, apresenta um índice relativamente
baixo em relação ao número de óbitos de grávidas e recém-nascidos. No ano de
2013, aconteceram seis mortes; em 2014 houve dois óbitos; em 2015 uma morte foi
registrada; em 2016 dois óbitos; em 2017 duas mortes e em 2018 uma pessoa faleceu.
No Brasil, cinco mulheres grávidas morrem por dia em decorrência de problemas
na hora do parto. Diminuir ainda mais essa quantidade de óbitos e amenizar as
dores e sofrimentos das parturientes é premissa maior para a equipe do Materno
Infantil de Marabá.
O que diz a Família
Edivaldo Furtado,
esposo de Simone
Nascimento, informou que ainda está muito triste e abalado com o
falecimento da esposa. Somente a partir de segunda-feira (7), ele vai
investigar todo o ocorrido e tomar medidas judiciais, se for o caso. O corpo da jovem está sendo velado no Km 40 da BR-230,
município de São João do Araguaia, sob forte comoção familiar. O sepultamento
acontecerá às 16 horas de hoje (5), no cemitério público de São Domingos
do Araguaia, sudeste do Pará, cidade onde moram os familiares de Simone Nascimento.
(Por Pedro Souza)
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