Guerrilha do Araguaia: Sebastião Curió é denunciado por crime de homicídio e ocultação de cadáver
O Ministério Público Federal (MPF) ofereceu nova denúncia contra Sebastião Curió, o Major do Exército Brasileiro que comandou a repressão à Guerrilha do
Araguaia, no sudeste do Pará, resultando em centenas de
camponeses torturados e dezenas de guerrilheiros mortos, cujos
corpos jamais foram encontrados. As informações foram divulgadas nesta
terça-feira (19).
A ação penal é assinada por oito Procuradores da
República que integram a Força Tarefa Araguaia e foi apresentada à
Justiça Federal em Marabá, tratando do assassinato, tortura e ocultação dos
cadáveres de Cilon da Cunha Brum (“Simão”) e Antônio Teodoro de Castro
(“Raul”).
Entenda o caso
Segundo a denúncia, “Sebastião Curió, no início do
ano de 1974, no município de Brejo Grande do Araguaia, no Pará, no exercício
ilegal das funções que desempenhava no Exército brasileiro, em contexto de
ataque generalizado e sistemático – e com pleno conhecimento das circunstâncias
deste ataque – contra opositores do regime ditatorial e população civil, matou,
em concurso com outros membros das Forças Armadas ainda não totalmente
identificados, Cilon da Cunha Brum e Antônio Teodoro de Castro. (…) Em seguida,
o denunciado, coordenando ações finalisticamente dirigidas à produção do
resultado, com o auxílio de outros militares, ocultou os cadáveres das vítimas,
os quais ainda permanecem ocultos, a fim de apagar os vestígios do crime de
homicídio e se manter impune.”
Homicídios
Curió poderá responder pelos crimes de homicídio
doloso qualificado e ocultação de cadáver das duas vítimas, já que o crime de
tortura, diz o MPF na ação, só foi incluído no Código Penal brasileiro em 1997,
décadas após os fatos ocorridos na região conhecida como Bico do Papagaio,
divisa entre os estados do Pará, Maranhão e Tocantins.
O motivo torpe dos homicídios, de acordo com a
denúncia, consistia “na busca pela preservação do poder, mediante violência e
uso do aparato estatal, em contexto de ataque generalizado e sistemático contra
opositores do Estado ditatorial, para reprimir e eliminar dissidentes
contrários ao regime e garantir a impunidade dos autores de crimes de
homicídio, sequestro, ocultação de cadáver e outras graves violações de
direitos humanos.” A denúncia foi ajuizada ontem (18 de março).
Sequestro e Guerrilha
É a terceira vez que
Curió é denunciado por crimes cometidos durante a ditadura militar. A primeira
ação penal contra ele, relacionada ao desaparecimento/sequestro de cinco
vítimas, foi também a primeira da história do país sobre as atrocidades do
regime. A denúncia é a 39ª em que o MPF trata de crimes do regime instalado em
1964. As ações do tema foram distribuídas à Justiça Federal no Pará, Rio de Janeiro,
São Paulo, Goiás, Santa Catarina e Tocantins.
Em relação à Guerrilha do Araguaia, esta
é a 5ª denúncia ajuizada pelo MPF. No total, as cinco denúncias dizem respeito
ao desaparecimento forçado de doze vítimas. Ao todo, no Brasil, 59 agentes de
Estado ou pessoas a serviço da União foram apontados como autores de graves
violações de direitos humanos cometidas contra 52 pessoas.
O primeiro processo contra Curió trata
do sequestro de militantes do Partido Comunista do Brasil (PC do B) no Araguaia
e foi recebido pela Justiça em 2012 – o recebimento é uma etapa obrigatória em
ações criminais e significa que os requisitos legais foram cumpridos pelo MPF –
o que fez com que o militar fosse o primeiro réu do país por crimes da ditadura
militar. O caso tramitava em Marabá mas foi trancado por um habeas corpus
concedido pelo Tribunal Regional Federal da 1a Região (TRF1) a pedido de Curió.
O MPF recorreu ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) para anular o trancamento
e o recurso aguarda julgamento.
A segunda denúncia contra Sebastião
Curió foi ajuizada em 2015 e trata de homicídios e ocultação de cadáveres
contra três militantes comunistas no Araguaia. Nesse caso, o juiz de 1ª
instância em Marabá, Marcelo Honorato, recusou o recebimento da ação penal, por
considerar os efeitos da Lei de Anistia, que impediria a Justiça de julgar
crimes cometidos durante a ditadura militar. O MPF recorreu da decisão e o caso
aguarda apreciação pelo TRF1 desde então.
Texto: globo.com
Até onde eu sei, estes processos não poderão prosperar devido a lei da anistia, pois de outra forma a Dilma estaria atrás das grades, assim como a Miriam Leitão
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