Incertezas: Real é a segunda moeda que mais perde valor no mundo
As
incertezas em torno do andamento da reforma da Previdência no Congresso
Nacional fizeram o real ser a segunda moeda que mais perdeu valor em todo o
mundo, em março. A divisa brasileira só não teve desempenho pior que o peso da
Argentina, país que passa por forte recessão desde o início do ano passado.
Em um total de 47 moedas negociadas
globalmente, o real teve o segundo pior desempenho ante o dólar americano em
março no mercado spot (à vista) internacional. Dados do Estadão/Broadcast
mostram que o dólar subiu 4,84% ante o real em março, considerando cotações da
última sexta-feira (29). O
porcentual de valorização da moeda americana ante a brasileira ficou acima do
verificado na comparação com outras divisas de países da América Latina, com
exceção da Argentina. O dólar americano subiu 10,62% ante o peso.
O
avanço quase generalizado do dólar em março está ligado ao aumento da percepção
de que a recuperação da economia global perdeu ritmo. O problema de crescimento
é algo que atinge os Estados Unidos, mas também outros países.
“O
Fed (Federal Reserve, o banco central americano) vem reduzindo
sistematicamente sua projeção de alta de juros e isso deveria ajudar a derrubar
o dólar”, diz José Faria Júnior, diretor da consultoria Wagner Investimentos.
“Mas os outros países também estão com problemas de crescimento e, por isso,
continuarão no processo de manutenção de suas taxas de juros”, afirma.
Estresse. No caso do
Brasil, o movimento de alta do dólar foi intensificado pelo cenário político.
Os desencontros entre o presidente Jair Bolsonaro e o presidente da Câmara,
Rodrigo Maia (DEM-RJ), acenderam o sinal de alerta do mercado financeiro. A
avaliação geral foi a de que, sem um entendimento entre os dois, aumentaram os
riscos de a reforma da Previdência não passar ou, pelo menos, não ter uma
tramitação tão rápida.
“A
briga do Congresso sobre a Previdência foi feia”, diz o economista Alexandre
Cabral, professor do Ibmec-SP. Segundo ele, ela trouxe impulso adicional de
alta para o dólar ante o real. “O mercado de câmbio vai ser muito volátil, até
a aprovação da reforma.” O
auge do estresse em março ocorreu na quarta-feira, quando o dólar atingiu R$
3,99. Cotações assim haviam sido vistas apenas antes da eleição presidencial do
ano passado.
Em
meio à pressão, o Banco Central entrou nos negócios na quinta-feira e ofertou
US$ 1 bilhão por meio de leilão de linha – uma operação que corresponde à venda
de dólares ao mercado com compromisso de recompra no futuro. A atuação ajudou a
reduzir a pressão.
Texto: Estadão
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