Bolsonaro determina rompimento de diálogo com MST
O novo ouvidor
agrário nacional do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária),
o coronel do Exército João Miguel Souza Aguiar Maia de
Sousa, enviou memorando-circular nesta quinta-feira (21) a todas as
superintendências do órgão com a orientação de que seus chefes subordinados não
recebam mais entidades ou representantes "que não possuam personalidade
jurídica", caso do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra).
No mesmo memorando, o ouvidor afirmou que "não deverão ser atendidos
invasores de terras (estes devem ser notificados conforme a lei)". Na
prática, a circular, chamada de "recomendação", representa o
rompimento de diálogo do Incra com o MST. O coronel pede que a orientação seja
repassada pelos superintendentes a todos os chefes de divisão e executores das
unidades do órgão no país.
Egresso da área da inteligência militar, o coronel foi escolhido para o cargo
pelo novo presidente do Incra, o general da reserva João Carlos de Jesus
Corrêa. No memorando, o coronel diz que a medida é tomada "em consonância
com as diretrizes emanadas pela presidência do Incra". A Folha de S.Paulo
indagou ao presidente do Incra e sua assessoria se ele tinha conhecimento ou
apoiava a orientação do ouvidor, mas não houve resposta até o fechamento deste
texto.
Em entrevista recente, o general já havia sinalizado essa diretriz. "A
minha concepção sobre essa questão é que nós vamos manter um diálogo com aquelas
entidades que possuem existência, com identidade jurídica. Essa é uma
condição sine qua non. E, para interlocução, outra questão
imperativa considerada é que a entidade não esteja à margem da lei e que
esteja dentro do processo nacional dentro da legalidade", disse Jesus
Corrêa.
A posição do novo ouvidor é oposta a toda a trajetória da ouvidoria. Nos anos
90, durante o governo Fernando Henrique Cardoso, em meio a uma série de
conflitos agrários no país, a ouvidoria agrária nacional surgiu justamente como
uma intermediadora dos atritos no campo, promovendo reuniões e saídas
negociadas entre sem-terra e fazendeiros em terras sob disputa e em vias de
sofrer ações de despejo pela Polícia Militar. Na época o órgão ganhou projeção
pela atividade do desembargador aposentado do Tribunal de Justiça do
Acre Gercino José da Silva Filho. Nos anos 2000, durante o mandato de
Luiz Inácio Lula da Silva, Filho permaneceu no cargo por quase três anos com as
mesmas funções.
Fonte: FolhaPress
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