Penduricalhos: Procuradores federais ameaçam entregar cargos por causa de cortes de benefícios
A procuradora-geral da República, Raquel Dodge, jogou água fria na
intenção dos membros do Ministério Público Federal (MPF) de abandonar
cargos em grupos de trabalho, representações e coordenações. Ao sentir a
pressão para abrir espaço para mais um penduricalho - gratificação por acúmulo
de funções – agiu rápido pelas redes internas e apaziguou os ânimos. Com o
restabelecimento do diálogo, a Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR)
já começa a admitir que a mobilização para o protesto, que teria início nesta
segunda-feira (11/2), naturalmente se dissolverá.
Na mensagem, Dodge diz que
compreende “o ato de entrega de funções, mesmo dele discordando”. Chama a
atenção para o momento de crise do país e para a inoportuna expansão de gastos
do dinheiro público. E dá um puxão de orelha: “o propósito de defesa da
integridade do MPF dispensa a exposição gratuita da instituição à opinião
pública, consequência natural de eventual entrega de funções”, afirma.
“Devo
zelar para que a exposição pública já desencadeada pelo extravasamento de pauta
reivindicatória corporativa – reitero – de difícil compreensão por formadores
de opinião e pela sociedade, não seja compreendida como ato contrário à lei,
nem desproporcional ao justo, e muito menos indiferente à fase da vida nacional
marcada por grandes tragédias evitáveis, por elevado deficit público e por
milhões de desempregados e excluídos.
Renovo meu convite à retomada do diálogo,
para o qual sempre estou disponível”, diz Dodge na mensagem. Em outro trecho, ela
fala da preocupação com a credibilidade do MPF e convida os colegas para “uma
reflexão sobre o dia de amanhã (11/02), data para a qual nossa Associação
Nacional de Procuradores da República (ANPR) marcou a entrega de funções 'como
ato concreto de protesto e posicionamento'”.
“Queríamos
justamente isso. Mas ainda falta ela marcar sessão extraordinária do Conselho
Superior do Ministério Público Federal (CSMPF) para sentarmos e resolvermos as
pendências”, afirma José Robalinho Cavalcanti, presidente da ANPR e principal
articulador da mobilização. Ele insiste que a assimetria remuneratória com os
juízes é fundamental e que isso só depende da mudança na fórmula de cálculo
para expandir o pagamento da gratificação a maior número de membros.
“Mesmo com
o aumento de 16,38%, com o fim do auxílio-moradia, na primeira instância, houve
queda mensal dos subsídios em torno de R$ 1,2 mil”. Questionado se não seria o
caso de o dinheiro do auxílio-moradia retornar ao caixa do Tesouro para
colaborar com o ajuste fiscal, Robalinho explicou que “isso não existe, porque
prejudicaria o futuro do MPF, seria uma forma de encolher o orçamento nos
próximos anos”.
De acordo
com especialistas em finanças públicas, o dinheiro que era usado no
auxílio-moradia, cuja quantia foi mantida em 2019, não está exatamente sobrando
e nem será devolvido. “Esses recursos podem ser investidos em custeio ou em
projetos importantes. Cabe lembrar que, em passado não muito distante, a classe
reclamava de falta de verba para viagens, diárias, gasolina, entre outras.
Houve categorias que fizeram campanha para não usar veículos sem vistoria e sem
condições de trafegar. Então, chegou a oportunidade de o dinheiro que saiu do
auxílio-moradia, que era indenizatório e não integrava o salário, ir para
funções mais nobres”, criticou um técnico que não quis se identificar.
Fonte: Correio Braziliense
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